segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O porto

Meu lindo
Meu leito
Meu ninho desfeito

No peito aberto
Flor do deserto

sábado, 3 de dezembro de 2011

Íntimos temores


Escondo o desejo
Escolho entre os beijos
A boca mais vazia

Recolho cada toque
Abarco nos abraços
O medo de fugir

Seguro suas mãos
Sentindo pelos dedos
O passado escorrer

Guardo no olhar
Ardendo as pálpebras
Cansada de fingir




Imagem: 'Grey daisy', Marilyn Manson

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A rotina da lembrança é lembrar-se de esquecer

O seu sim
O seu não
O pão nosso de cada dia

A alegria do sorriso
Meu delírio achando juízo
Você aqui pra me decifrar

Nós, além do martírio voluntário
A caminhada rotineira pro trabalho
Além das calçadas
Das janelas embaçadas
Encontramos refúgio nas flores florescentes
Procuramos abrigo nos becos imaginários

Você na minha frente
Eu pensando diferente
Do que poderia imaginar

A palavra cálida
A mão que me afaga
A memória que te apaga

terça-feira, 1 de novembro de 2011

"Tudo se transforma numa cama desfeita"


Sou uma lembrança longínqua, o sol isolado em meio ao horizonte distante. Sou apenas horas retrocedendo em um relógio sem corda. Tiquetaqueando ao longe. O som nostálgico capturado por seus ouvidos. No entanto, você não retém meus segundos vazios.
Preciso desesperadamente compreender como as lembranças tornam-se lembranças. Tão-somente. Qual o misterioso processo que te sacralizou numa única palavra. Minha essência foi corrompida pela memória. Sou apenas uma sombra desvanecente, perdida no labirinto impenetrável das suas recordações.
Necessito entender como as lágrimas caem com o mesmo afã desesperado de meses atrás, porque elas sobrevivem a toda essa angústia? Quando a saudade tornou-se densa, capaz de turvar minha percepção? Saudade. Eu sinto falta.
Sobretudo a ausência pesa. Uma música dói. Um cheiro queima. O sono que compartilhamos. A chuva batendo leve na janela derrama tristeza. O prenúncio de uma possível aproximação, ainda que efêmera, causa frêmito nos nervos. O calor do toque rápido me contenta. Em que momento aprendi a satisfazer-me com tão pouco? Desde que a incerteza postou-se diante do meu futuro.
A existência era plena, pois me valia do espectro da sua presença rondando meus planos. Ah, os planos! Não intencionava coisa alguma sem que seu sorriso, seu cabelo, suas mãos, suas palavras, estivessem de alguma forma envolvidos. A minha vida estava (temo dizer que ainda está) intrínseca na sua própria.
Hoje tenho exclusivamente esse abismo cheio de nada. O único que posso realmente chamar de meu. Meu precipício. Meus fracassos insólitos. A desesperança corrosiva e o autoflagelo. Sou sádica de mim mesma. Saltarei em breve.




Cena do filme: A insustentável leveza do ser

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Caos




Acima dos edifícios empoeirados
Corpos sobem
Flutuam
Dentro das luzes envidraçadas
Corpos reluzem
Leves
Desfalecidos nas camas desfeitas
Corpos derretem
Indecentes

Saltam empoeirados do edifício
Lá fora, impassível
A cidade anoitece
Acendem-se todas as luzes fortes
Cegam as pupilas
Incomodam os seres
Que se escondem vermelhos
Pelos cantos, desleixados
Desnudos, lascivos
Soltando agudos sussurros libertinos

Indiferente, meu corpo cor de areia
Enxerga sem ver os vidros da veneziana embaçada
Inconsciente, minha mão mergulha macia
Tateando os estragos da noite
Ouvidos ocos não ouvem os gemidos vindos de fora
Recuo aos apelos dos filhos paridos no crepúsculo
Ludibriando toda loucura noturna
Recuso os apelos dos filhos da noite
Naufraga, nua... nada?  
Nauseada, possuída por alguma obsessão
Arrebatada, convulsa buscando paredes movediças

Lá fora, sem saber
As pessoas dançam alucinadas
Música silenciosa das harpas sem cordas
Extravagantes, exibindo orgulhosas
Prodígios carnais frenéticos
Em cima dos edifícios
Anjos suicidas pulando da corda bamba
Ali no alto, perto do céu
Estrelas descoloridas brincando no escorregador
Tingem a lua de escarlate
Façam um pedido.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Se se morre de amor?

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim...

Vento no Litoral _ Legião Urbana


 Então ele abriu a porta e saiu embriagado pelas lágrimas e cambaleando ao passo de cada soluço. Aquele lamento salgado lhe queimava o rosto.
 Ela ficou séria e pensativa. Todos os dias nos quais viveram despreocupadamente passavam como uma ventania pela sua mente, as lembranças estáticas pairavam bailantes diante dos seus olhos assustados. O ar estava pesado, enchia os pulmões de chumbo e tristeza.
 Não sabia afugentar a esperança. Não saber aterroriza. Pensava somente na falta dele projetando-se no futuro. Vacilante.
 Poderia correr agora se sentisse o próprio corpo. Poderia beijá-lo se saboreasse outra vez o contato quente da sua pele ebúrnea .
 Lembrou-se das carícias. Gemidos ultrapassando as paredes e a porta trancada. Sentiu o gosto dele e engoliu. Sorveu também seu cheiro na própria pele. Dilatou as narinas como se aspirasse todo íntimo dele.
 Pensou o quanto adorava e desejava sempre cada pedacinho de carne, cada partícula mística daquele corpo ausente. 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reconhecimento

Uma vez conheci um garoto
Que tinha estrela nos olhos
Um céu inteiro em sua boca
A Lua nas palavras
O Sol no sorriso
Tudo que dizia eram sonhos
Barcos a vela e brisas
Seus cabelos eram nuvens
Tinha asas nas costas
E o universo inteiro no corpo

Certo dia...
Mergulhamos no infinito
Pra achar poesia
Onde duas retas se encontram
E nenhuma rima combina

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cósmico

Nada brota nesse solo infecundo no qual plantou as sementes dos sonhos abortados. O sangue é o único fluido exuberante capaz de jorrar dessa boca escancarada. Somente tu, menina solitária, agarrará a cauda de um cometa errante e habitará o Sol com seus descendentes. Um deus violador fecundará seu ventre murcho, logo depois morrerá. O corpo arrebentado de tanto inflar de esperança. Seu fruto também foi plantado. Uma partícula a mais de crença espalhada pelo universo.




                                                                                                    
Imagem: ‘Back into the Tempest’, Gustave Dore
                                                                                                                                                                                                                      





domingo, 19 de junho de 2011

Recordações adormecidas

A rua está pavimentada com sonhos
Dentro de você sinto um poema escrito
A ânsia soletra os sons da nostalgia
As lembranças confortam a insanidade

Na memória, o seu corpo afaga meus desejos 
Nossas mãos guardam cuidadosamente o futuro
Enquanto as linguas recolhem suor quente
E o sono apaga o Sol

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Morrer, nascer e amar outra vez

Eu te amo de longe com a força de um animal caçando
Aguardo cada segundo
Sondando seu passo manso
Sentindo seu cheiro doce
Juntar-se a poeira seca

Quando estamos juntos
Nossos corpos entrelaçam-se com destreza
De água viva na correnteza
E a espuma do mar nos nossos tentáculos
Amolece a tez úmida
Salga a pele, o beijo.
Torna transparente a pretensão
Transparecendo na ponta dos dedos
Denunciando bem querer
Domo os desejos alados
Dados sem medição
Engaiolo na palma da mão
Suas vontades, veleidades
Vaidades...
Trago dentro do corpo
Aquilo que te torna frêmito
Farta o abundante gozo
Faz a mente absorta
Por minutos de redenção
 
Tenho a força do mundo
Escondida por debaixo do ventre
Envolta por muitos cuidados
Tenho suas caricias
Carrego então escondida
A abstração do universo
Posta à mostra somente
No úmido, quente de um beijo
Na boca destilando desejo
E nos incontáveis segundos
Entre morrer, nascer e amar outra vez.   

quinta-feira, 3 de março de 2011

Vaporosa vivência trotando no tempo

Um quê dessa existência volátil
Afaga o ego com as pontas dos dedos
Me carrega
Alada, fantástica, cheia de temores leves
Suficientes apenas para provocar um arrepio na pele
E nos pêlos que eriçam-se

Capaz de subtrair a arrogância de viver
Atribuir aquele brilho de aurora
Irradiando de todos os lugares
Enchendo meus olhos
Me torna cheia de maravilhas
Reconfortante, afagando o suspiro.
Tateando sem no entanto, com tato
Pega cuidando não pegar

Minha existência repentina
Assusta!
Mas me acostumei ao inesperado
Aos gritos sem direção
As palavras derramadas torrencialmente por tempestades
Tornei-me parte das minhas partes
Enchi-me de todas nuances brilhantes
Como também da monocromática inabilidade com a vida

Gosto de me encontrar
Na aspereza das manhãs cinzentas
E sentir-me parte do céu
Sentir que também posso ir
Derramar-me em algum telhado
Porque sentir é isso
Derramar-se sem, porém perder qualquer gota


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Acalento

...em como a sua pele... Eu como a sua pele. Penso se virá me acordar amanhã, tal qual um presente de despertar. Como se o dia precisasse me presentear a cada alvorecer, e seu esplendor de raios ofuscantes não fosse suficiente para minha felicidade.
Quieta relembro os beijos, repasso na memória os toques sinceros. As palavras comuns e simples que afagaram tanto quanto cada sorriso ameno e cada pensamento leve, disfarçado em sussurro. E cada sussurro acompanhado de mordida, acompanhada de arrepios na pele.
Minha vontade nasce da esperança, cravada no desejo de fitar novamente seus olhos, moles, sonolentos. Olhos de gato manhoso. Espero sentir o peso do seu corpo inerte, imerso no sono e sonhos engraçados. A perspicácia de dois corpos se aconchegando da melhor forma na cama, buscando uma maneira de sentir-se o mais próximo possível, como que querendo fundir os milímetros da carne e entrelaçar os pelinhos arrepiados do corpo.
Sobra espaço no colchão, falta cobertor pra nos cobrir. Porque você sempre puxa para si minha parte, o que faz com que eu acorde com frio e reclamando. Você se desculpa, me abraça quente, rimos, nos beijamos. O sono vem e os cílios encontram-se, lentos e preguiçosos.
Leviana despetalo as bobas esperanças pelo lençol branco. Elas desmancham-se conforme as gotas atingem a superfície real do tecido, que permite somente que lascívia faça morada nos seus vincos. Tomando nossos corpos definitivamente, fazendo as palavras arquejarem de satisfação.
No sol vacilante da aurora, a luz translúcida veleja até suas pálpebras cerradas. Traz consigo mares de sonhos incertos. Transforma a luxuria em oceano de amor. Naufrague em mim.




O caminho

Pelas ruas te sigo
Teu passo é abrigo
Da minha esperança

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Marchinha leviana


Dançando alegremente
Nas manhãs de sol
O seu carnaval
Sambando sorridente
Pro seu bloco passar
Sapateando contente
Por cima de mim

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O sabor do verso

Quero dividir contigo
O gosto de toda estrofe
Seus lábios degustarão
O doce, picante, amargo
Diluídos em cada t
raço




A valsa dos sonhos impossiveis

     - Então é assim? disse ela. É como sentir-se dentro de um ninho.
     Ela emaranhou-se mais fundo por entre os braços dele e experimentou novamente o calor morno que atraia o suspiro. Tudo aconteceu como se fosse pela primeira vez. Experiência única, primitiva.
     Ele percorreu os olhos pela frágil criatura pousada no seu colo. Apesar da semelhança com a porcelana ela possuia a força da criação. Imaginou como seria se nada brotasse dela. Coisa alguma seria vida nele.
     Eles sorriram em comunhão com a simplicidade de formarem um elo. Ela ouviu a chuva e desistiu de ser um trovão. Queria somente sentir o corpo molhado, não pela água precipitando urgente, mas banhado pela seiva quente dele.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Dando cores à tinta invisível

     Escreva cada sussurro da memória, capte as vibrações do pensamento. Entregue-se as palavras que jorrram da fonte de sua inspiração, afogue-se. Não meça o ímpeto. Sinta todas as palavras, somente desse modo selecionará a correta.
     Procurando em todas encontrará a que tem o encaixe perfeito para cada frase. A palavra que mais se adapta ao seu timbre, ela será adequada para toda sibilação dos seus lábios e acariciará a língua como um beijo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rasgue as páginas do meu livro vazio

As folhas perdidas com o tempo
Daquele livro que você rasgou
São páginas jogadas ao vento
Da nossa história que ninguém contou

Agora são só esses fragmentos
Pedaços dispersos no infinito
Lembranças naufragadas em meu pensamento
Que a memória ainda não afogou

Somente sussurros serenos
Contando por eras adiante no espaço
Nossa historia irreal de medos
Nossa canção e nosso fracasso

E aquela promessa que fim levou?
E aquele sonho que não vingou?
E aquele dia da nossa aurora?
E aquele tudo e o nosso agora?

São só sussurros passados adiante
São só lembranças do nosso instante
O que a boca conta
E o que mais desprender de mim


Ela foi sem fechar as malas, espalhando lembranças pelo chão.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Emergir

Em meio a desejos ardentes, desejo ardentemente paz. Calma serena, plenitude máxima. Uma tarde quente em uma sala morna. Fotografias empoeiradas sobre móveis antigos, quero somente o ar morno e parado enchendo meus pulmões.
Descubro, porém, que exatamente a busca por paz desinquieta o espírito. Meu ser encontra-se comigo somente quando paro. Me descubro. Não olho no espelho, pois o concreto não satisfaz. O palpável não estimula. O visivelmente simples não aguça meus sentidos. Desejo sentir o meu íntimo invadindo toda a dimensão de um quarto escuro.
Da minha escuridão percebo, sinto que gerarei uma estrela brilhante. Estrela cadente emergindo do caos interior rumo ao infinito, que é pra sempre.
Atingir a barreira do inimaginável, onde a tênue linha entre o delírio e a razão desfaz-se. Dissipar a envolvente nevoa lúgubre. Quero tocar sua essência com meus olhos.
Esqueci as virtudes ensinadas baseando-se em mentiras e aprendi a verdade que não pode ser ensinada.  
Agora tenho somente a nudez de sentimentos crus bebidos assim que brotam da alma.