segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O sabor do verso

Quero dividir contigo
O gosto de toda estrofe
Seus lábios degustarão
O doce, picante, amargo
Diluídos em cada t
raço




A valsa dos sonhos impossiveis

     - Então é assim? disse ela. É como sentir-se dentro de um ninho.
     Ela emaranhou-se mais fundo por entre os braços dele e experimentou novamente o calor morno que atraia o suspiro. Tudo aconteceu como se fosse pela primeira vez. Experiência única, primitiva.
     Ele percorreu os olhos pela frágil criatura pousada no seu colo. Apesar da semelhança com a porcelana ela possuia a força da criação. Imaginou como seria se nada brotasse dela. Coisa alguma seria vida nele.
     Eles sorriram em comunhão com a simplicidade de formarem um elo. Ela ouviu a chuva e desistiu de ser um trovão. Queria somente sentir o corpo molhado, não pela água precipitando urgente, mas banhado pela seiva quente dele.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Dando cores à tinta invisível

     Escreva cada sussurro da memória, capte as vibrações do pensamento. Entregue-se as palavras que jorrram da fonte de sua inspiração, afogue-se. Não meça o ímpeto. Sinta todas as palavras, somente desse modo selecionará a correta.
     Procurando em todas encontrará a que tem o encaixe perfeito para cada frase. A palavra que mais se adapta ao seu timbre, ela será adequada para toda sibilação dos seus lábios e acariciará a língua como um beijo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rasgue as páginas do meu livro vazio

As folhas perdidas com o tempo
Daquele livro que você rasgou
São páginas jogadas ao vento
Da nossa história que ninguém contou

Agora são só esses fragmentos
Pedaços dispersos no infinito
Lembranças naufragadas em meu pensamento
Que a memória ainda não afogou

Somente sussurros serenos
Contando por eras adiante no espaço
Nossa historia irreal de medos
Nossa canção e nosso fracasso

E aquela promessa que fim levou?
E aquele sonho que não vingou?
E aquele dia da nossa aurora?
E aquele tudo e o nosso agora?

São só sussurros passados adiante
São só lembranças do nosso instante
O que a boca conta
E o que mais desprender de mim


Ela foi sem fechar as malas, espalhando lembranças pelo chão.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Emergir

Em meio a desejos ardentes, desejo ardentemente paz. Calma serena, plenitude máxima. Uma tarde quente em uma sala morna. Fotografias empoeiradas sobre móveis antigos, quero somente o ar morno e parado enchendo meus pulmões.
Descubro, porém, que exatamente a busca por paz desinquieta o espírito. Meu ser encontra-se comigo somente quando paro. Me descubro. Não olho no espelho, pois o concreto não satisfaz. O palpável não estimula. O visivelmente simples não aguça meus sentidos. Desejo sentir o meu íntimo invadindo toda a dimensão de um quarto escuro.
Da minha escuridão percebo, sinto que gerarei uma estrela brilhante. Estrela cadente emergindo do caos interior rumo ao infinito, que é pra sempre.
Atingir a barreira do inimaginável, onde a tênue linha entre o delírio e a razão desfaz-se. Dissipar a envolvente nevoa lúgubre. Quero tocar sua essência com meus olhos.
Esqueci as virtudes ensinadas baseando-se em mentiras e aprendi a verdade que não pode ser ensinada.  
Agora tenho somente a nudez de sentimentos crus bebidos assim que brotam da alma.