segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Se se morre de amor?

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim...

Vento no Litoral _ Legião Urbana


 Então ele abriu a porta e saiu embriagado pelas lágrimas e cambaleando ao passo de cada soluço. Aquele lamento salgado lhe queimava o rosto.
 Ela ficou séria e pensativa. Todos os dias nos quais viveram despreocupadamente passavam como uma ventania pela sua mente, as lembranças estáticas pairavam bailantes diante dos seus olhos assustados. O ar estava pesado, enchia os pulmões de chumbo e tristeza.
 Não sabia afugentar a esperança. Não saber aterroriza. Pensava somente na falta dele projetando-se no futuro. Vacilante.
 Poderia correr agora se sentisse o próprio corpo. Poderia beijá-lo se saboreasse outra vez o contato quente da sua pele ebúrnea .
 Lembrou-se das carícias. Gemidos ultrapassando as paredes e a porta trancada. Sentiu o gosto dele e engoliu. Sorveu também seu cheiro na própria pele. Dilatou as narinas como se aspirasse todo íntimo dele.
 Pensou o quanto adorava e desejava sempre cada pedacinho de carne, cada partícula mística daquele corpo ausente. 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reconhecimento

Uma vez conheci um garoto
Que tinha estrela nos olhos
Um céu inteiro em sua boca
A Lua nas palavras
O Sol no sorriso
Tudo que dizia eram sonhos
Barcos a vela e brisas
Seus cabelos eram nuvens
Tinha asas nas costas
E o universo inteiro no corpo

Certo dia...
Mergulhamos no infinito
Pra achar poesia
Onde duas retas se encontram
E nenhuma rima combina

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cósmico

Nada brota nesse solo infecundo no qual plantou as sementes dos sonhos abortados. O sangue é o único fluido exuberante capaz de jorrar dessa boca escancarada. Somente tu, menina solitária, agarrará a cauda de um cometa errante e habitará o Sol com seus descendentes. Um deus violador fecundará seu ventre murcho, logo depois morrerá. O corpo arrebentado de tanto inflar de esperança. Seu fruto também foi plantado. Uma partícula a mais de crença espalhada pelo universo.




                                                                                                    
Imagem: ‘Back into the Tempest’, Gustave Dore